Saúde bucal, telemedicina e biossegurança: tire suas dúvidas

Desde que o Conselho Federal de Medicina, juntamente ao Ministério da Saúde, liberou a telemedicina no Brasil, em caráter de excepcionalidade durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2), a modalidade se tornou essencial para manter a quarentena e evitar deslocamentos a clínicas e hospitais, liberando o atendimento hospitalar para situações emergenciais.


Já a biossegurança engloba procedimentos adaptados ao consultório para oferecer proteção e segurança ao paciente, ao médico e sua equipe. São regras e normas pré-estabelecidas que reduzem os riscos à exposição de material orgânico, como sangue, saliva e dejetos, especialmente agora, em meio a essa nova situação de crise global.

Para entender um pouco sobre o cotidiano da telemedicina e da biossegurança na odontologia, a Dra. Kamila Godoy, dentista, membro da Associação Brasileira de Ortodontia, da World Federation of Orthodontists e pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP; esclarece abaixo algumas das principais dúvidas que surgem entre os pacientes, incluindo a relação entre a higiene bucal e o coronavírus. Confira.

Os benefícios da telemedicina na odontologia atualmente

Desde a década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a importância dessa área médica, em especial, para casos em que a distância é um fator crítico. Na odontologia, a telemedicina contempla o atendimento pré-clínico, suporte assistencial, consulta, monitoramento e diagnóstico. Um dos aplicativos mais utilizados na telemedicina é o Zoom, que pode ser instalado no celular ou no computador. Mas há outros aplicativos que também possibilitam o atendimento à distância, como o próprio WhatsApp. Ambos possuem recursos de áudio e vídeo que facilitam a avaliação do dentista.

Tendo em mãos a anamnese (questionário que investiga febre ou distúrbios respiratórios presentes) e o histórico do paciente, o dentista pode realizar o atendimento via telemedicina, permitindo a orientação de condutas e, dependendo do caso, a prescrição de medicações. “Atualmente, a telemedicina tem sido de extrema importância para a troca de informações entre paciente e dentista. Além de evitar os riscos de contaminação, a tecnologia proporciona otimização de tempo para resultados de exames e de decisões de procedimento”, reforça a Dra. Kamila Godoy.

Casos que pedem urgência no atendimento presencial e os cuidados com o paciente

Dores intensas, fraturas, inchaço repentino ou quedas são alguns dos casos que exigem intervenção rápida. E quando o atendimento presencial é inevitável, entra a importância da biossegurança. “São procedimentos adaptados no consultório com o objetivo de dar proteção e segurança ao paciente, ao profissional e sua equipe”, diz a dentista.

O único meio de prevenir a transmissão de doenças é o emprego de medidas de controle de infecção, como equipamento de proteção individual (EPI), esterilização dos instrumentos, desinfecção do equipamento e ambiente, e antissepsia da boca do paciente.

Tratamentos que já estavam em andamento antes da quarentena

A continuidade do tratamento exige todas as mudanças necessárias no protocolo de biossegurança: anamnese prévia, bochecho com solução de água oxigenada, equipamento de proteção individual (EPI) para toda a equipe de atendimento e para o paciente, e espaçamento entre as consultas.

A conduta com o paciente que precisa de receita ou atestado

No âmbito do atendimento por telemedicina, é possível emitir atestados ou receitas odontológicas por meio eletrônico. Estes devem conter a identificação do dentista e do paciente, o registro da data e hora, além da validade do documento. No entanto, segundo Kamila, os casos que pedem alguma medicação especial são aqueles em que a consulta presencial é imprescindível.

Comorbidades geradas pelo estresse que impactam na saúde bucal e demandam atendimento presencial

O estresse emocional, dentre outros fatores, tem gerado aumento de casos de refluxo gastroesofágico, que é o retorno involuntário e repetitivo do conteúdo do estômago para o esôfago. De acordo com Kamila Godoy, o refluxo, associado à uma alimentação extremamente ácida, traz acidez estomacal (que tem Ph em torno de 2,0) à boca, resultando numa diminuição importante da acidez local.

“Ainda que a saliva possua mecanismos que tentam neutralizar o Ph, essa alteração química corrói o esmalte do dente. Caso haja escovação dentária na sequência, acontece a erosão do esmalte, podendo, inclusive, levar à formação de cavidades”, explica Kamila. Segundo ela, a incidência de refluxo gastroesofágico no Brasil é em torno de 12%. “As crianças na primeira infância ainda são o grupo de maior prevalência. Em adultos, mulheres grávidas são as que mais apresentam, assim como obesos, fumantes e sedentários”, relata a dentista.

O estresse também gera desgastes e fraturas dentárias, além de distúrbios temporomandibulares, causados por problemas com os músculos da mandíbula, ou das articulações, ou do tecido fibroso que os une. O paciente pode ter dor de cabeça e sensibilidade nos músculos da mastigação, ou ainda pode ouvir um estalo nas articulações da mandíbula. “O tratamento sempre é multidisciplinar, e a odontologia precisa ser integrativa, indicando condutas que visam a mudança de comportamento dos pacientes. Costumo, inclusive, associar o tratamento à praticas meditativas e de relaxamento”, sugere Kamila Godoy.

“É fundamental frisar que a higienização da boca não previne a contaminação do coronavírus. A higiene bucal está relacionada à contenção da proliferação bacteriana que, através da boca, pode atingir outras regiões do corpo, como garganta, coração e pulmão. Mas nenhum produto dental é capaz de reter o vírus e tampouco evitar a sua transmissão”, alerta a dentista Kamila Godoy.

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